
Caio Bruno
Dia dos Namorados em tempos de pandemia

Após uma tórrida noite de cama, suor e sexo, satisfeitos e imberbes viram um para o outro e dizem quase ao mesmo tempo.
- Por que você não apareceu antes na minha vida hein?
- Quem sabe essa resposta? Talvez chegamos no momento certo.
Dormem felizes e abraçados, com planos e sonhos. O mundo lá fora é deixado de lado. As contas, os problemas, a pandemia, a crueldade e a sordidez. Tudo esquecido.
Amanhã a gente vê o que vai ser.
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Vão completar meio século de casado. Ele a pediu em casamento na empolgação após o Brasil vencer a Itália por 4 a 1 e conquistar o tricampeonato. Entre Pelés, torturas e Jules Rimet. Todo Dia dos Namorados, religiosamente, ele a acorda com chocolates e café na cama. Romantismo à moda antiga.
Infelizmente esse ano a cena não aconteceu pela primeira vez. Ela acordou cedo, tomou amargamente o desjejum e foi ao hospital visitá-lo. Está com a Covid-19, ela mal conseguiu vê-lo. No fim, entregou um cartão: “Você vai sair dessa. Feliz Dia dos Namorados”
Amanhã a gente vê o que vai ser.
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Natália e Sandro não se conhecem e talvez nunca vão se ver na vida, mas ambos compartilham da mesma particularidade: é o primeiro Dia dos Namorados deles sozinhos depois de anos.
Ela terminou seu relacionamento há pouco tempo e está tranquila. Conversa com os amigos pela internet, assiste as lives musicais, acaricia o seu pet, cuida de seus projetos e se prepara para tomar um vinho e apreciar a própria companhia no fim da noite. Em casa. Em segurança e paz.
Ele ainda lamenta que seu amor foi embora. Não está lidando bem com a data. Fica abalado ao ver os casais hipocritamente ou não se expondo em fotos e declarações pelas redes sociais. Passa por sua cabeça sair sem rumo para esquecer a solidão. Não há para onde ir. Vai ser uma noite difícil, mas ele vai superar.
Amanhã a gente vê o que vai ser.